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Arquitetos: Pitagoras Group; Fernando Seara De Sá, Raul Roque Figueiredo, Alexandre Coelho Lima, Manuel Vilhena Roque
- Ano: 2009
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Fotografias:José Campos
Descrição enviada pela equipe de projeto. O complexo de edifícios onde a Prefeitura de Guimarães agora construiu o Centro de Formação Avançada de Pós-Graduação da Universidade do Minho, se encontra na "Zona de Couros", uma zona de remanso formada por um conjunto de pequenos becos e caminhos que, seguindo o riacho existente, constituem a estrutura viária desta área.
A paisagem da "Zona de Couros" se caracteriza por edifícios abandonados ou transformados, mas também por memórias, as vezes imaginárias e subjetivas, que as pessoas desenvolveram a partir dos fragmentos que chegaram até os nossos dias. A partir destes fragmentos podemos conservar os tanques de tratamento de couros que podemos encontrar em toda esta área, os edifícios e estruturas em madeira e, naturalmente, o pequeno riacho que foi a razão para a instalação desta atividade (tratamento de peles) nesta área. Foi importante desde o início do processo do projeto a localização do edifício na "Zona de Couros", uma área que sofreu certa segregação do núcleo urbano adjacente, localizado dentro das muralhas do centro histórico de Guimarães, mas sedimentado de soluções ricas e autônomas e edificações industriais que, juntos, tem um inegável interesse arquitetônico e, imediatamente, proporcionam alguns temas para reflexão e desenvolvimento.
Um desses complexos é composto pelos edifícios que foram ocupados pela antiga fábrica "Freitas & Fernandes". Não vamos fazer referência a nenhum edifício especificamente, mas sim a um conjunto de construções dispostas em torno de um pátio, que testemunharam grande parte dos acontecimentos que moldaram a "Zona de Couros" como nós a conhecemos hoje em dia. Parte destes prédios foram reformados com a instalação do CAFPG. O conjunto de edifícios destinados ao CAFPG - UM, está situado a oeste do grande pátio interno, e estas construções foram as que sucessivamente se adaptaram as necessidades da produção têxtil e apresentaram um estado de conservação muito desigual. A área agora ocupada pelos edifícios CAFPG se transformou muito, de maneira construtiva (mediante a introdução de estruturas de concreto armado e paredes de tijolos) ou espacialmente (mediante a introdução de novos níveis e acesso), o que tornou virtualmente impossível a apreensão do seu estado original.
O programa escolhido - materializado pelo projeto - pode ser resumido, fracamente, como um edifício escolar para a Universidade do Minho, focado na formação de mestres e doutores, e se distingue das outras unidades da mesma instituição não apenas por seus espaços de pesquisa ocuparem um lugar central, mas também por estar localizado fora do campus e no centro da cidade.
O edifício tem dois pisos e reserva o ático para áreas técnicas. O nível térreo abriga as áreas de estar, acima de um pé direito duplo, áreas pedagógicas (salas de aula) e a área administrativa. No primeiro andar estão localizados os escritórios, laboratórios e salas de atividades, além da biblioteca conectada às áreas sociais, buscando um local mais reservado e adequado para a sua função. As áreas de circulação têm uma geometria irregular, para dar espaço para os chamados "living lab`s" e estes, antes de tudo, estarão representando as áreas dos atuais projetos acadêmicos.
Os edifícios e o programa criam um dilema de projeto; primeiramente, a realidade de um edifício muito desfigurado e sem atrativos, e depois, as expectativas existentes na sua recuperação e reabilitação. Para a questão de qual seria a atitude adequada às expectativas das construções recuperadas, respondemos com uma proposta de um projeto com grandes opções de flexibilidade. Evitamos uma abordagem rígida sobre a intervenção e implementação e usamos uma resposta pragmática e detalhada para cada uma das equações e problemas enfrentados no projeto. Desconhecendo a realidade do edifício original, tudo teria que passar por sua reinvenção usando imagens esquemáticas destituídas do seu conteúdo concreto.
De modo geral, propomos a demolição de todas as áreas em que adivinhamos a substituição de soluções construtivas originais para paredes de tijolos e demolição total das estruturas existentes em concreto armado, e, paradoxalmente, também propusemos como princípio fundamental a manutenção da volumetria como um repositório essencial da memória do edifício existente.
Este é o paradoxo do projeto, a reinvenção do edifício mantendo inalterada a sua volumetria, utilizando para a sua definição externa elementos que caracterizam a "Zona de Couros" - madeira e acabamentos em granito - ou até mesmo usar sistemas de construção leves ao propor o cobre como o acabamento de cobertura de uma parte significativa do edifício. Simultaneamente, propõe-se a reconstrução completa dos interiores, utilizando materiais e linguagens contemporâneas, a fim de acolher e responder às exigências de conforto impostas pelos normas e regulamentações.
O projeto de paisagismo foi limitado ao pequeno pátio formado pelos edifícios da intervenção e propôr, para além da dominante laje de granito em caminhos e pontos de acesso, a introdução oportuna de pequenas áreas verdes e uma pavimentação de tijolo, de modo a assegurar a intimidade desses espaços com um design minimalista que iria fortalecer a presença da chaminé de tijolos de aspecto industrial.